Muito se fala sobre jogo desigual, mas, para
entendermos o seu verdadeiro significado nas relações interpessoais, faz-se
necessário compreender o real sentido das palavras. O dicionário da língua
portuguesa Larouse Cultural descreve jugo como “canga com que se juntam os
animais para puxar o arado ou o carro; opressão, sujeição”. Já a palavra
desigual significa “irregular, não uniforme, injusto, volúvel, desproporcional”.
Entendendo o sentido das palavras, fica mais fácil
compreender o cuidado do apóstolo Paulo quando recomendou: “Não vos ponhais em
jugo desigual”, 2 Coríntios 6.14. Imaginemos um agricultor que deseja arar o seu
terreno para, em tempo hábil, fazer o plantio da terra. Se colocar sob um mesmo
jugo um boi, que é lento, com um jumento, que é rápido, certamente a
desproporcionalidade o impedirá de alcançar o seu objetivo.
Apesar do termo “jugo desigual” poder referir-se às
diversas formas de alianças entre pessoas, desejamos nos ater tão somente nos
relacionamentos conjugais, considerando o período da escolha, de namoro até à
convivência no cotidiano como casados.
Há quem veja, por exemplo, a incidência de jugo
desigual nas desigualdades físicas como estatura, grupo etário, estética ou
etnia. É bem verdade que tais aspectos podem, muitas vezes, acarretar
determinados transtornos no relacionamento. E isso é ocasionado pela herança
cultural que cada um recebe no âmbito familiar. Normalmente tendemos a passar
adiante nossa história de vida. Tal atitude pode ter repercussões negativas na
condução do novo lar. Se, por exemplo, aprendemos que a cor da pele ou diferença
de idade é fator negativo e, ainda assim, nos envolvemos num relacionamento sem
considerar o nosso aprendizado, podemos perder a aceitação familiar e colhermos
frutos da indiferença e, às vezes, até da inimizade.
Contudo, não significa dizer que um casal, mesmo
possuindo alguma das diferenças citadas, não tenha a chance de ser feliz. Se
estivessem dispostos a relevar eventuais críticas ou rejeições, assumindo
conscientemente a escolha, poderão sim encontrar o caminho da realização e da
felicidade. Afinal, o namoro e o casamento proporcionam a rica oportunidade de
diálogo, conhecimento e confronto com valores e práticas muitas vezes
equivocadas levando-nos a vivenciar experiências novas e a construir novos
conceitos e paradigmas. Ademais, teologicamente falando, jamais podemos afirmar
que a advertência do apóstolo Paulo, acerca do jugo desigual, tenha qualquer
relação com a questão da aparência física.
Analisando as diferenças
Outro aspecto apontado como incurso no jugo desigual é
a diferença cultural. Alguns alegam que um casal que não possui o mesmo nível
social ou profissional pode ter limitações para ver o mundo sob um mesmo prisma,
o que fatalmente acarretaria muitas dificuldades para alcançar ideais
comuns.
De fato, não são poucos os casais que, submetidos a
esta situação, reclamam da dificuldade de diálogo porque o cônjuge é
simplesmente incapaz de acompanhar um raciocínio lógico em decorrência da
limitação de conhecimentos ou das diferenças culturais.
Quando chegam a esse nível, tais relacionamentos
normalmente culminam em isolamento, esfriamento e provável separação.
Entretanto, se analisarmos por outro ângulo, existe casais que se conheceram
vivenciando estas diferenças e insistiram em levar adiante o relacionamento e
conseguiram construir uma convivência saudável e respeitosa. Muitos cônjuges
conseguiram até a superação das próprias deficiências educacionais e culturais
ao serem desafiados pela necessidade de corresponder e atender às expectativas e
exigências do outro. Portanto, não é correto afirmar que o relacionamento
conjugal entre pessoas de diferentes níveis sociais seja condenável do ponto de
vista bíblico.
Existe ainda um outro fator que pode ser considerado
altamente significativo para o sucesso do relacionamento. Trata-se das
desigualdades comportamentais. O comportamento é fruto da imagem que fazemos de
nós mesmos e que foi formada a partir daquilo que disseram que somos e moldada
pelo meio em que vivemos. Abdicar deste autoconhecimento, mesmo para atender às
demandas da outra parte envolvida no relacionamento, é uma missão quase
impossível. Muitos casamentos fracassam porque os interessados esperam
encontrar, no outro, respostas que venham satisfazer apenas às suas necessidades
pessoais como encontrar alguém que seja capaz de amar, de compreender as
indisposições diante dos desafios da vida, de respeitar os ideais e ajudar a
tomar decisões, de admirar os dotes físicos e atender as necessidades sexuais,
de tirar as amarras que prendem a antigas imposições da família, de realçar a
importância perante outros… Enfim suprir todas as carências e vazios existentes
no ser.
Indubitavelmente muitos destes motivos estarão
presentes na vida de uma pessoa que está em busca da consolidação de um
relacionamento, mas tentar alcançar satisfação pessoal sem uma contrapartida é
sinônimo de egoísmo e, certamente, não promoverá a realização mútua. Se uma das
partes manifesta este perfil egoístico é necessário tomar muito cuidado!
(...)
Desigualdade espiritual
Além dos fatores já mencionados, cremos que a maior
ênfase deve ser dada à desigualdade espiritual, ou seja, a que se refere à
escolha do cônjuge que não comunga da mesma fé, ou que não tenha o mesmo nível
de compromisso com Deus. Nem é preciso dizer que em um lar onde os dois caminham
em direções opostas, ou em ritmos diferentes, as conseqüências são
desastrosas.
Escolher uma pessoa que compartilha das mesmas crenças
e sonhos é fundamental para a construção de um bom casamento. É necessário
observar os princípios que servirão de base para uma relação duradoura: buscar
no parceiro a mesma disposição para servir a Deus, orando com freqüência tanto a
sós como em conjunto; ter um claro entendimento dos ensinamentos bíblicos e de
como devem se comportar ao longo do namoro, noivado e casamento; ter a
consciência de que a sincera amizade, fundamentada no genuíno amor cristão, é
indispensável para um casamento equilibrado, já que ela vem embasada nos
princípios bíblicos de que não devemos julgar para não sermos julgados e de que
devemos considerar o outro como parte do Corpo e Cristo e, portanto, merecedor
do nosso apreço e respeito. É verdade que apenas o fato de os dois serem
cristãos não é garantia plena de um matrimônio feliz, mas aliado a outros
requisitos também indispensáveis, aumenta significativamente a probabilidade de
sucesso.
Se, ao ler este artigo, você chegar à conclusão de que
o seu namoro não está de acordo com o propósito de Deus, não tenha dúvidas tome
as medidas necessárias para não permitir que o seu futuro seja comprometido por
uma dedicação da qual venha a se arrepender amargamente. E se concluir que o seu
casamento não foi feito segundo o modelo divino, ou se, ao longo da estrada
vocês deixaram de considerar a importância de uma aliança com o Criador, não se
deixe abater. Busque em Deus a resposta única para o redirecionamento ou
restauração do seu casamento. Fazer a coisa certa pode requerer um sacrifício
maior, mas os resultados são muito mais gratificantes. Além disso, você pode
contar que Deus estará sempre ao seu lado, dando estratégias para que você
desfrute de um lar feliz e faça parte do mais arrojado e bem elaborado projeto
feito pelo próprio Criador: A família – feliz e abençoada!
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