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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

"Só Jesus pode libertar do crack" diz pastor



Droga cerca de cinco vezes mais potente que a cocaína, mais barata e acessível que as outras, o crack tem sido cada vez mais utilizado, se tornando um sério problema de saúde e também social. Até pouco tempo, comum entre carcerários e pessoas de baixo poder aquisitivo nas grandes cidades, a droga invadiu o interior do país e chegou avassaladora à Tangará da Serra. Atualmente, mais de 90% das internações nas casas de recuperação e de apoio são de dependentes do crack.
De acordo com Ruth Brandão Salgado da Silva, coordenadora da Casa Terapêutica “Viver Sóbrio”, localizada no distrito de Progresso, no local são atendidos atualmente cerca de 50 internos e destes, mais de 95%, ou seja, quase a totalidade, são dependentes químicos do crack.
Situação que se repete na comunidade terapêutica “Nascer de Novo”, no antigo Mirante (Serra Tapirapuã), onde vários adolescentes e jovens com idade entre 14 e 21 anos passam por tratamento para ´se livrar´ da droga. Nesta comunidade, o jovem fica internado por seis meses, onde passa por um tratamento de três fases.

Na Agrovila 24, nas proximidades do Assentamento Antônio Conselheiro, funciona a Casa de Recuperação “Salvando Vidas”, por onde 372 dependentes passaram somente em 2011, vindos de vários municípios da região e de outros estados brasileiros e até da Bolívia. Com trabalho diferenciado, a Casa, dirigida pela igreja evangélica Assembleia de Deus, possui atualmente 21 internos e destes, 17 são ex-dependentes de crack.
O pastor Valmir Vieira dos Santos, diretor da Casa, disse que recebe em média entre 20 e 30 internos mensalmente. “Quase todos relacionados a química. Alguns é por causa só da bebida, mas a maioria é ligada a droga. Sempre começam com a maconha, depois usam pasta base e acabam no crack”, comenta o pastor que ouve diariamente os depoimentos dos internos.
“A situação do crack é muito difícil. Não existe medicina que cure. Essas pessoas chegam lá sem perspectiva de vida, sem nada e o que fazemos é devolver a auto estima a elas. Não adianta medicamentos – só Jesus Cristo pode libertá-los”, disse, explicando que a base do tratamento é espiritual. “Eles aprendem a palavra de Deus, oram, recebem ensinamentos através de terapia ocupacional com horta, pesca, além de canto e outras atividades”, falou.
Segundo ele, a Casa recebe dependentes de todas as idades – inclusive idosos – não havendo diferenciação de credo ou classe social. “O crack é como a Aids, o câncer, que não escolhe classe social – está em todos os lugares”, ponderou o pastor.
A Casa de Recuperação “Salvando Vidas” foi fundada há quatro anos e é mantida por doações e por um convênio de R$ 40 mil com a Prefeitura, recurso pequeno, segundo o pastor, diante da grande demanda, que aumenta anualmente. “Essas pessoas precisam recuperar sua autoestima. Elas chegam lá como marginais e saem cidadãos recuperados”, assegurou.
A eficácia do tratamento, segundo Valmir, chega a ser de até 65%. “Em média 32% dos que chegam lá se recuperam na primeira internação e 33% na segunda ou terceira internação, depois das chamadas recaídas. Os outros 35% acabam voltando para o mundo da droga, para a cadeia, uma cadeira de rodas ou acabam morrendo”, disse, citando como exemplo um rapaz de 24 anos assassinado no final do ano passado na Vila Araputanga. Ele já havia passado por várias vezes pela Casa.
O Brasil ainda não possui uma política específica de combate a ascensão do crack, apesar de pesquisa sobre o consumo da droga estar sendo desenvolvida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A droga, sua ação e as estatísticas ainda estão em estudo, em elaboração. Enquanto isso, quase todos os centros de recuperação, casas de apoio e terapia são mantidos por entidades religiosas, associações de voluntários e ONGs, que ´sobrevivem´ de pequenos investimentos púbicos e doações.

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